Num dia próximo, a TeresaM, ao deixar um comentário tão querido no meu blogue, como sempre, falou no cheiro da casa da avó...
Ficou-me a apetecer imenso falar sobre isso...
O cheiro da casa da avó é um cheiro verdadeiro de ternura e de segurança... Nele incluem-se as tardes bem passadas entre comidas e bebidas, chás de hortelã e panquecas, feitas pela tia para todos, que as primas pedem, histórias (de trabalho) contadas pela outra tia, brincadeiras das primas e do primo mais novo da família. Nele incluem-se as filhoses de abóbora feitas e amassadas pela mãe, no Natal, fritas pela avó e salteadas com açúcar e canela por mim...
O cheiro da casa da avó inclui o bolo de nozes que a avó antes fazia, o frango assado na brasa que a avó faz, os piqueniques na mata de São Pedro, o olhar aguado azul, de amor, que o avô tem quando se emociona, a compreensão inigualável da avó, os sermões aliados ao "querer que tudo vos corra bem na vida" do avô, o amor inquestionável que ambos têm pelas filhas e pelos netos.
O cheiro da casa da avó estará para sempre ligado aos anos de trabalho árduo que os dois tiveram, a avó era a cozinheira do seu próprio restaurante na aldeia (aos Domingos era sempre dia de cozido à Portuguesa), a avó era a talhante do seu próprio talho, ajudante da sua própria mercearia e empregada do seu próprio café. O avô ficava-se pelo café e pelo talho - quantas manhãs não acordava com o som do podão a cortar a carne, a desmanchar a carne, como tão bem ele sabia fazer - e pelas idas à Quinta.
O cheiro da casa da avó é também o cheiro das três filhas (por ordem de aparecimento): Janine, Edite, Cidália; das suas alegrias e das suas tristezas, mas de muitos momentos Felizes.
O cheiro da casa da avó é também o cheiro "de protecção e mimo" dos netos: Marlise, a mais velha; Beatriz, nascida no último Agosto (1997) de funcionamento do café e restaurante; Carolina, 8 anos, que foi cuidada pela avó durante alguns meses do primeiro ano de vida; e Francisco, 2 anos, o mais novo, e único menino entre mulheres.
O cheiro da casa da avó é um cheiro doce de união, apesar das diferenças, e dos laços que se criam sempre que nos juntamos todos, com bastante frequência.
O cheiro da casa da avó é o cheiro da luta pela dignidade na velhice, pela autonomia e pela luta contra a doença. A avó vive autónoma, dia após dia, com Parkinson, o avô superou um cancro do cólon e um enfarte agudo do miocárdio, nos últimos 10 anos.
O cheiro da casa da avó é um cheiro especial, cheio de recordações, mas a olhar para o futuro.
Na esperança de que fiquem connosco muito mais tempo, para nos verem crescer e superar os obstáculos da vida, com os valores que nos ensinaram, todos os dias...
É deles de quem sinto muita falta neste ano em que estou mais distante: da avó Amélia e do avô Miguel.
Obrigada por serem quem são.
Desta neta que vos ama muito,
Marlise
A lareira da casa da avó - Natal 2009
Os nossos doces de Natal 2009