"à procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr atrás desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencê-lo mais uma vez e sempre.

Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer.
Porque a minha força é imortal."

terça-feira, 26 de março de 2013

Sísifo

 
Recomeça… 
Se puderes, 
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres, 
Nesse caminho duro 
Do  futuro, 
Dá-os em liberdade. 
Enquanto  não  alcances 
Não  descanses. 
De nenhum fruto queiras só metade.
  
E, nunca saciado,
Vai colhendo 
Ilusões  sucessivas  no  pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado, 
O logro da aventura. 
És homem, não te esqueças! 
Só é tua a loucura 
Onde, com lucidez, te reconheças. 

Miguel Torga,
Diário XIII

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sinto Falta.

Sinto Falta de escrever, verdadeiramente... 
Sinto que a ausência da escrita me torna mais desorganizada em ideias e na minha própria vida. 
Ironia... quando a rapidez da própria vida me decapita o tempo para a escrita e para algo tão prazeroso como ler amigas que valem a pena.
Sinto que estou em época de mudança na minha vida, mudança essa que necessita de tempo e de reflexão. Por vezes, sinto falsamente que estagnei quando, na realidade, tudo está em transformação e em formação... É a ansiedade da mudança e, simultaneamente, a ansiedade de alcançar um patamar mais harmonioso e mais seguro. (Outra ironia, quando temos segurança a mais não achamos graça nenhuma. Resumindo, somos seres difíceis e complexos).
Neste momento sinto-me em formação, durante os próximos 4 anos na especialidade que escolhi, Medicina Geral e Familiar, até ao fim dos meus dias de labor, como médica, até ao fim dos meus dias, como pessoa, como amante, como amiga, como filha, como mulher, como doente...
Sinto Falta de ser assim, escritora... E de ter um interior complexo e, por vezes, um pouco nostálgico e depressivo. A verdade é que tudo passa enquanto escrevo, passa de uma forma natural, elegante, descomprometida. Sinto-me livre e especial. Sinto Falta deste tempo.
Mas também sinto Falta de um passado que já não volta, de uma felicidade descomprometida e de uma ingenuidade perdida, mas doce.
Sinto Falta de Mim e de Ti, de nós, abraçados num tempo em que eu tinha medo que tudo acabasse depressa demais.
Na verdade, tudo acaba depressa demais, mesmo quando estamos fartos de estar à espera.
É essa a beleza da vida, e a sua ironia.
Não convém termos sempre essa impressão, essa realidade na nossa mente, porque senão temos medo, muito medo. Mas quando temos essa noção, é bom sinal, é sinal de que vamos aproveitar mais, dizer mais vezes "Amo-te" ou "Gosto muito de ti", para quem for mais envergonhado. Vamos enfrentar muitas coisas com mais Força e, por vezes,  com mais desfaçatez, vamos ser Amigos de verdade, Amantes de verdade, Filhos de verdade, Pais de Verdade, Avós de Verdade. Ganhamos Amor Próprio de Verdade. 
Porque somos especiais, únicos e finitos. 
E porque sentimos Falta do Futuro e de todas as coisas maravilhosas que trará.

E o melhor é publicar e não reler porque a intenção seria apagar tudo... Ao menos este texto saiu da alma. Faz Falta Alma! E alguma Loucura!
Boa semana e Bom ano 2013!