Há dias em que sentimos estremecer por dentro. Por pessoas que entram nas nossas vidas e que nem conhecemos.
Ontem ouvi a velha senhora de 90 anos dizer-me que não tinha ninguém, e que estava cansada, e que só queria que Deus a levasse. Com tamanha lucidez, com tamanha sensatez. Sem sentimentalismos baratos. Quando lhe disse que ia mudar para uma enfermaria melhor, com muito menos gente, mais tranquila, disse-me: "Não preciso de estar sem gente, sozinha já eu estou todos os dias". Quando lhe descobrimos a tuberculose disseminada, apenas lhe disse que tinha um bichinho no sangue, que tinha de ir para outro sítio melhor, e começar antibiótico. Não lhe pude dizer o que era, tendo consciência do que significa a palavra "tuberculose" para uma senhora de 90 anos e sabendo que os infecciologistas estão mais aptos do que eu para responder às suas necessidades. De qualquer forma, antes de ir embora ainda me disse: "não me minta, doutora". E eu não menti... apenas estremeci por dentro, por saber que muito possivelmente, se sobreviver a isto tudo, vai para um lar, uma vez que os familiares afastados com quem vive já não podem (ou não querem) tê-la mais em casa, estremeci por dentro ao saber que todo o tratamento vai durar pelo menos 6 meses e não sei se vai aguentar ficar no hospital mais tempo do que estava à espera, e estremeci por dentro por saber que ela tem razão, que ela merece que não a chateiem mais e que não a piquem mais, que aos 90 anos tem uma lucidez que muito pouca gente tem, e que merecia ter tido filhos que estivessem agora ao pé dela a segurar-lhe a mão, e a dizer para não se preocupar.
E à noite, estremeci por dentro...aquela reportagem da TVI. A mãe de Rui Pedro. E o absurdo de tudo aquilo. E o absurdo em que se pode tornar a nossa vida, de repente. A injustiça. O grito mudo mas permanente. A dor excruciante. O arrepio. A injustiça. A injustiça. Uma vida desperdiçada. Várias vidas fantasma, em suspenso.
Querida Janine, o meu comentário anteriro perdeu-se e eu não sei porquê. Não consigo reconstituir, mas sei que terminava com a esperança de nascerem todos os dias meninas e meninos que, "como tu", crescem a preparar-se para exercer o bem, "como tu" e a tornar o mundo melhor, "como tu". Beijinhos e bem - hajas por isso! Madalena
ResponderEliminarObrigada, querida Madalena! Um beijinho muito doce!!! ;)
ResponderEliminarQuerida Janine...tu sabes bem que te gosto muito mas,mesmo muito de ti e que te admiro por seres esta menina tão meiga.
ResponderEliminarTambém eu me senti estremecer por dentro ao ler esta bela mensagem,mais uma vez demonstraste o enorme coração que tens.
Que linda profissão que escolheste,não podias ter escolhido melhor.
Um beijinhos de muito carinho.
Janine
ResponderEliminarUm beijinho grande e muitos Parabéns.
FELICIDADES.
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Muito obrigada mais uma vez, querida Natália!!!
ResponderEliminarOlá Janine
ResponderEliminarDou-te os parabéns pela pessoa que és. Lidar com os afectos é muito complicado, em particular quando isso está relacionado com a profissão. Mas tu sabes gerir isso muito bem:)
jokas e tudo de bom!