"à procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr atrás desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencê-lo mais uma vez e sempre.

Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer.
Porque a minha força é imortal."

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dias de estremecer por dentro

Há dias em que sentimos estremecer por dentro. Por pessoas que entram nas nossas vidas e que nem conhecemos.
Ontem ouvi a velha senhora de 90 anos dizer-me que não tinha ninguém, e que estava cansada, e que só queria que Deus a levasse. Com tamanha lucidez, com tamanha sensatez. Sem sentimentalismos baratos. Quando lhe disse que ia mudar para uma enfermaria melhor, com muito menos gente, mais tranquila, disse-me: "Não preciso de estar sem gente, sozinha já eu estou todos os dias". Quando lhe descobrimos a tuberculose disseminada, apenas lhe disse que tinha um bichinho no sangue, que tinha de ir para outro sítio melhor, e começar antibiótico. Não lhe pude dizer o que era, tendo consciência do que significa a palavra "tuberculose" para uma senhora de 90 anos e sabendo que os infecciologistas estão mais aptos do que eu para responder às suas necessidades. De qualquer forma, antes de ir embora ainda me disse: "não me minta, doutora". E eu não menti... apenas estremeci por dentro, por saber que muito possivelmente, se sobreviver a isto tudo, vai para um lar, uma vez que os familiares afastados com quem vive já não podem (ou não querem) tê-la mais em casa, estremeci por dentro ao saber que todo o tratamento vai durar pelo menos 6 meses e não sei se vai aguentar ficar no hospital mais tempo do que estava à espera, e estremeci por dentro por saber que ela tem razão, que ela merece que não a chateiem mais e que não a piquem mais, que aos 90 anos tem uma lucidez que muito pouca gente tem, e que merecia ter tido filhos que estivessem agora ao pé dela a segurar-lhe a mão, e a dizer para não se preocupar.

E à noite, estremeci por dentro...aquela reportagem da TVI. A mãe de Rui Pedro. E o absurdo de tudo aquilo. E o absurdo em que se pode tornar a nossa vida, de repente. A injustiça. O grito mudo mas permanente. A dor excruciante. O arrepio. A injustiça. A injustiça. Uma vida desperdiçada. Várias vidas fantasma, em suspenso.

6 comentários:

  1. Querida Janine, o meu comentário anteriro perdeu-se e eu não sei porquê. Não consigo reconstituir, mas sei que terminava com a esperança de nascerem todos os dias meninas e meninos que, "como tu", crescem a preparar-se para exercer o bem, "como tu" e a tornar o mundo melhor, "como tu". Beijinhos e bem - hajas por isso! Madalena

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  2. Obrigada, querida Madalena! Um beijinho muito doce!!! ;)

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  3. Querida Janine...tu sabes bem que te gosto muito mas,mesmo muito de ti e que te admiro por seres esta menina tão meiga.
    Também eu me senti estremecer por dentro ao ler esta bela mensagem,mais uma vez demonstraste o enorme coração que tens.
    Que linda profissão que escolheste,não podias ter escolhido melhor.
    Um beijinhos de muito carinho.

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  4. Janine
    Um beijinho grande e muitos Parabéns.
    FELICIDADES.


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  5. Muito obrigada mais uma vez, querida Natália!!!

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  6. Olá Janine
    Dou-te os parabéns pela pessoa que és. Lidar com os afectos é muito complicado, em particular quando isso está relacionado com a profissão. Mas tu sabes gerir isso muito bem:)
    jokas e tudo de bom!

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