"à procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr atrás desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencê-lo mais uma vez e sempre.

Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer.
Porque a minha força é imortal."

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

23 de Outubro - Feriado Nacional Húngaro

Olá a todos!

No dia 23 de Outubro foi feriado nacional aqui na Hungria... Não poderia deixar passar data tão importante para os húngaros neste blog...

Este feriado relembra 2 acontecimentos marcantes na Hungria (pensei logo que se fosse em Portugal teríamos 2 feriados, mas pronto):

1- Insurreição Húngara de 1956

2- Proclamação da constituição democrática húngara em 1989

Mas era sobre a insurreição húngara que vos queria falar porque continua a suscitar muitas recordações tristes e muitas mágoas neste povo...

Então contextualizando historicamente a Hungria...


 Guerra, Regência e Holocausto 

Tratado de Trianón 
Em 1920, após a derrota na I Grande Guerra Mundial, a Hungria, através da assinatura do Tratado de Trianón, perde dois terços do seu território.

O Tratado de Trianón foi assinado em 4 de junho de 1920, no Palácio Petit Trianon, em Versalhes, França. Destinava-se a regular a situação do novo estado húngaro que substituiu o Reino da Hungria, parte do antigo Império Austro-Húngaro, após a Primeira Guerra Mundial.
As partes do tratado eram as potências vitoriosas, os seus aliados e o lado perdedor. As potências vitoriosas incluiam os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a Itália; os seus aliados eram a Romênia, a Jugoslávia e a Checoslováquia. O lado perdedor estava representado pela Hungria.

No campo dos derrotados, a Hungria perdeu dois terços de seu território, que passou de 325.000 km² a apenas 93 000 km² após a assinatura do tratado, e quase dois terços da sua população, de 19 milhões para 7 milhões de habitantes.

O território perdido foi distribuído da seguinte maneira:
  • a Romênia recebeu a Transilvânia (102.000 km²);
  • a Croácia, a Eslavônia e a Voivodina uniram-se à Sérvia (63.000 km²);
  • a Checoslováquia recebeu a Rutênia e a Eslováquia (63 000 km²) ;
  • a Áustria recebeu a Burgenland (4.000 km²); Sopron voltou à Hungria após o referendo de 1921.
A Hungria perdeu o acesso ao mar que possuía através da Croácia.
O tratado criou expressivas minorias húngaras na Roménia, na Jugoslávia e na Checoslováquia.




  
Todo o território branco fora da linha vermelha que delimita a Hungria actual, foi o território que a Hungria perdeu....

Holocausto
Na II Guerra Mundial, em troca do apoio da Alemanha de Hitler na recuperação dos territórios perdidos no tratado de Trianón, a Hungria aliou-se aos Nazis.
Em 1941, Horthy (regente da monarquia húngara desde 1920) enviou tropas para a invasão da Jugoslávia e, mais tarde, da União Soviética.
Nos finais de 1944, Horthy torna-se um empecilho e é preso pelas SS.
Os Cruzes-Flechadas, pró-hitlerianos, passam a dirigir o país.

 565 000 húngaros foram mortos até Agosto de 1944, um terço de todos quanto morreram em Auschwitz durante o conflito.

Sovietização

Depois do governo interino ter organizado as eleições livres de 1945, ganhas pelo partido dos pequenos proprietários, com 57% dos votos, é proclamada a República.
Contudo, nas eleições de 1947, a coligação de esquerda, entretanto formada pelos Comunistas, Sociais-Democratas e outras forças políticas, chegou aos 60% dos votos, e, nas eleições de 1949, essa mesma coligação, agora a concorrer em lista única, arrecadou cerca de 95% dos votos.
Consequentemente, a 20 de Agosto de 1949, foi proclamada a República Popular da Hungria, cujo poder passou a ser representado pelo Politburo do Partido Comunista.
Entre 1948 e 1953, aquele que foi o primeiro secretário geral do partido, Mátyás Rákosi, irá pôr em marcha uma planificada e inflexível política estalinista.
A colectivização agrária foi alvo de forte contestação por parte de muitos camponeses, pelo que alguns acabaram nas prisões ou executados.
A Hungria passou então a ser mais um estado-satélite da União Soviética.

Revolução
A morte de Estaline em 1953 fez cair Rákosi, que é substituído por Imre Nagy (encetou uma política reformista nos 2 anos de permanência no poder).
Mas a linha dura não apreciou as suas reformas e substitui-o, em Abril de 1955, por Ernó Geró.

(A Revolução Húngara de 1956 foi um levantamento popular espontâneo contra o governo estalinista na Hungria e contra a política imposta pela União Soviética, iniciado em 23 de Outubro de 1956 com uma grande manifestação estudantil que marchou pelo centro da capital Budapeste. No dia 4 de Novembro de 1956, o Exército Vermelho invade a cidade e a resistência organizada chega ao fim, seis dias depois.)

O levantamento húngaro começou em 23 de Outubro de 1956, com uma manifestação pacífica de estudantes em Budapeste. Exigiam o fim da ocupação soviética e a implantação do "socialismo verdadeiro". Quando os estudantes tentaram resgatar alguns colegas que haviam sido presos pela polícia política, esta abriu fogo contra a multidão.
No dia seguinte, oficiais e soldados juntaram-se aos estudantes nas ruas da capital. A estátua de Estaline foi derrubada por manifestantes que entoavam, "russos, voltem para casa", "abaixo Gerő" e "viva Nagy".

No dia 25 de Outubro, tanques soviéticos dispararam contra manifestantes na Praça do ParlamentoMais de 100 pessoas foram mortas! Chocado com tais acontecimentos, o comité central do partido forçou a renúncia de Gerő e substituiu-o por Imre Nagy.


 25 de Outubro de 2009 -  Praça do Parlamento, Budapeste


 


 


Nagy foi à Rádio Kossuth e anunciou a futura instalação das liberdades, como seja o multipartidarismo, a extinção da polícia política, a melhoria radical das condições de vida do trabalhador e a busca do socialismo condizente com as características nacionais da Hungria.
Em 28 de Outubro, o primeiro-ministro Nagy vê as suas opções serem aceites por todos os órgãos do Partido Comunista. Os populares desarmam a polícia política.

Em 30 de outubro, Nagy comunicou a libertação do cardeal Mindszenty e de outros prisioneiros políticos. Reconstituíram-se os Partidos dos Pequenos Proprietários, Social-Democrata e Camponês Petőfi.
O Politburo Soviético decide, numa primeira fase (30 de Outubro) mandar as tropas sair de Budapeste, e mesmo da Hungria se viesse essa a ser a vontade do novo governo.

Mas no dia seguinte, volta atrás e decide-se pela intervenção militar e instauração de um novo governo. A 1 de Novembro, o governo húngaro, ao tomar conhecimento das movimentações militares em direcção a Budapeste, comunica a intenção húngara de se retirar do Pacto de Varsóvia e pede a protecção das Nações Unidas.

A 3 de Novembro, Budapeste está cercada por mais de mil tanques. A 4 de Novembro, o Exército Vermelho invade Budapeste, com o apoio de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia, derrotando rapidamente as forças húngaras.  

Calcula-se que 20 000 pessoas foram mortas durante a intervenção soviética.  
Nagy foi preso (e posteriormente executado) e substituído no poder pelo simpatizante soviético János Kádár.  
Mais de 2 mil processos políticos foram abertos, resultando em 350 enforcamentos. Dezenas de milhares de húngaros fugiram do país e cerca de 13 mil foram presos. As tropas soviéticas apenas saíram da Hungria em 1991.

Democracia

Em Junho de 1989,  a nação deu nova e solene sepultura a Imre Nagy e, simbolicamente, a todas as vítimas da Revolução de 1956. Uma mesa redonda nacional reuniu os novos partidos e alguns antigos, recriados (como os Pequenos Proprietários e os Sociais-Democratas), bem como os comunistas, para discutir a reforma da Constituição e os preparativos para as eleições livres.

Em Outubro, o Partido Comunista reuniu o seu último congresso e transformou-se no Partido Socialista Húngaro (MSzP). Numa sessão histórica também em Outubro, o Parlamento determinou a convocação de eleições parlamentares pluripartidárias e de uma eleição presidencial directa. A nova legislação converteu a República Popular da Hungria na República da Hungria, garantiu os direitos humanos e civis e criou uma estrutura institucional que assegurava a separação dos poderes.

A nova República foi oficialmente declarada em 23 de Outubro de 1989, aniversário da Revolução de 1956. (e por isso recordam 2 datas importantes no mesmo dia)






Praça do Parlamento, Budapeste - Hungria, 20 Anos de Democracia




Beijinhos......

 

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