"à procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr atrás desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencê-lo mais uma vez e sempre.

Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer.
Porque a minha força é imortal."

terça-feira, 6 de julho de 2010

Chuva

Está um dia de calor, ela espera-o em frente a uma igreja amarela, numa qualquer parte do Mundo... A espera é igual a tantas outras esperas, vazia, sem vida, sem momentos.
Enquanto olha para as pedras da calçada e se mexe de um lado para o outro, com impaciência, recorda-se.
E são tantas as memórias, daquelas que estão bem guardadas, tão secretamente, daquelas que, com medo de que percam a beleza e a magia, não se contam a ninguém, mesmo a ninguém. Ficam guardadas no canto escuro da alma, entorpecidas. E foi a essa parte da alma que ela foi buscar sentimentos tão deliciosos, como aquele Verão quente, mas simultaneamente húmido.
 Lembra-se de gelados deliciosos, de sorrisos espontâneos, de algumas lágrimas escondidas numa alegria semi-mentirosa, de calor e de chuva, das palavras usadas na altura certa, que ficarão para sempre. Esboça um pequeno sorriso e continua a espera. Lembra-se dos dias de emoção contida, dos dias de emoção desmedida, dos dias sem emoção alguma mas que, mesmo assim, valeram tanto a pena. Agora sente o coração apressar-se, pede-lhe que páre um pouco, mas ele continua alegremente desobediente. Inspira fundo, olha para o braço, mais uma picada de mosquito coleccionada. Porque se esqueceu do repelente? Esquece o repelente, volta às profundezas do pensamento. E a espera continua, mas cada vez mais viva.
Recorda pessoas, sobretudo pessoas. Os seus olhos, que dizem tanto e às vezes dizem tão pouco. Mas gosta de recordar isso. São pessoas como ela. Imperfeitas. Como ela. Mas com tanto para contar. Lembra-se da  lucidez de alguns durante a infelicidade, do total desprezo de outros para com a felicidade que está ali e é tão real, das tristezas agridoces, com sabor a ternura e alegria, do conforto, da segurança, dos Abraços. Lembra-se de... Um pingo de chuva cai precisamente em cima da pele vermelha, marcada pelo mosquito. Olha para o céu, escuro, cinzento, cheio. Vem trovoada. Vem tempestade. Vem chuva.
Lá ao fundo, a figura dele. Começa a chover intensamente. A chuva apagou os pensamentos. Mas renova o dia. Começa o agora. E ele está perto, o coração volta a desobedecer alegremente. Olha para a pele suada da ansiedade da espera. Sente-se Feliz, por um momento, e deseja que a chuva não passe.

4 comentários:

  1. Tão bonito, Janine!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Superior!!!! Beijinhos com muita admiração!

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  2. Muito lindo querida Janine!!!

    beijinhos carinhosos..
    ..

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  3. Muito obrigada queridas Madalena, Natália e Maguie! Sempre com palavras bonitas. Beijinhos muito doces.

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