"à procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr atrás desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencê-lo mais uma vez e sempre.

Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer.
Porque a minha força é imortal."

sábado, 17 de outubro de 2009

O episódio do aperto de mão...

Olá a todos!!

Aqui vai o episódio:

Estava eu na lavandaria aqui do hostel (sim, eu vivo num hostel, depois explico melhor com fotos).

Mas então...estava eu à espera que a minha roupa secasse (aquilo que os americanos fazem nos filmes, sabem? Lol) sentada no chão, a ler um livro e a ouvir o barulho da máquina de secar roupa, quando entra um rapaz com o intuito de lavar a roupa dele...

Depois de colocar a sua roupa na máquina de lavar, perguntou-me de onde vinha e disse que também era Erasmus...da Turquia (Istambul)!

Bem, os Erasmus gostam sempre dos Erasmus e eu, na minha simpatia habitual, achei que seria um pouco incorrecto da minha parte continuar sentada, levanto-me, estendo-lhe a mão (já me deixei dos beijinhos porque culturalmente a maior parte dos países cumprimenta com aperto de mão) e digo: "Nice to meet you, I´m Janine".

Ele corou...Levou a mão direita à zona precordial (coração) e... (suspense)... disse: "I'm sorry but we don't shake hands..." Disse para aí mais umas duas vezes a palavra "sorry" e ficou um pouco atrapalhado....

E eu disse que não havia problema nenhum e continuei a falar com ele...mas depois fui para casa e fui pesquisar... E espantei-me com a minha ignorância, sei lá, com a minha falta de atenção, e com o facto de um ser do sexo masculino não querer sentir o meu aperto de mão... ;) É só um aperto de mão, sim??? Um aperto de mão... :)

É claro que quando me disse que não podia dar o aperto de mão, automaticamente pensei... regras islâmicas...

Porque ele, de resto, é super acessível, emprestou-me a tábua e o ferro de passar roupa, de forma extremamente prestável...

Então nas minhas pesquisas...

Encontrei um artigo sobre uma polémica que ocorreu na Suécia no final do ano passado.

Parece que devido à enorme onda de imigração islâmica que ocorreu na Suécia após a Guerra do Iraque (a Suécia recebeu mais imigrantes iraquianos do que o total de refugiados recebidos pelos Estados Unidos e pela Europa como um todo - só em 2007, mais de 19 mil iraquianos entraram no país!!!), a televisão estatal sueca resolveu ter um novo programa apresentado por 3 jovens muçulmanas cobertas com o tradicional véu islâmico. Tal programa suscitou um intenso debate sobre o choque entre as normas culturais diversas e sobre a integração da população muçulmana na Suécia.                 



Fica aqui um excerto da notícia:

O audacioso Halal-TV leva para o ar em horário nobre as opiniões de três jovens muçulmanas nascidas na Suécia mas de fé profundamente islâmica, vindas de famílias que emigraram de países do Médio Oriente e do Norte da África. O objectivo do programa é mostrar como as três muçulmanas vêem a Suécia e os seus valores, a fim de proporcionar uma maior compreensão dos suecos sobre uma parcela da crescente população muçulmana do país. Os programas abordam temas como sexo, álcool, igualdade e padrões de beleza, com um elemento ocasional de humor.

As apresentadoras são Dalia Azzam Kassem, uma estudante de Medicina de 22 anos de idade, a higienista dentária Khadiga El Khabiry, de 25 anos, e Cherin Awad, de 23.

Durante os programas, elas recebem convidados suecos para debater os temas abordados e entrevistam pessoas nas ruas.


Aperto de mão

No primeiro episódio da Halal-TV, mais uma controvérsia foi levantada: as apresentadoras  recusaram-se a cumprimentar um convidado do programa, o colunista Carl Hamilton, com um aperto de mão.

A lei islâmica proíbe qualquer contacto físico entre homens e mulheres que não sejam casados.

Duas das apresentadoras optaram por cumprimentar Hamilton com o gesto de levar as mãos junto ao peito, deixando a mão estendida do jornalista pairando no ar.

O resultado foi uma ríspida troca de palavras: "Desculpe, mas você deve-me dar um aperto de mão", disse o jornalista. "Isso sou eu quem decide", retrucou Khadiga.


"Na Suécia as pessoas cumprimentam-se com um aperto de mão. Se essa pessoa não for capaz de fazer isso, que se mude para uma caverna e se torne um eremita", respondeu Hamilton, acrescentando: "O problema não somos nós (os suecos). O problema é que vocês vêm para a Suécia e não nos querem cumprimentar com um aperto de mãos. O problema são vocês".

"Eu não vim para a Suécia. Eu nasci aqui", lembrou Khadiga.

O debate expandiu-se nos media suecos, com vários suecos manifestando a sua divergência em relação à postura do jornalista.

Na sua coluna no jornal Aftonbladet, Hamilton indagou se "querer cumprimentar muçulmanos com um aperto de mãos é racismo": "Quem se deve adaptar a quem?", indaga o jornalista.

"Para as apresentadoras do programa Halal-TV, a resposta é óbvia. A maioria sueca que aperta as mãos deve adaptar-se à minoria muçulmana que não faz isso". 


Uma das maiores críticas do programa é Dilsa Demirbag-Sten, uma curda turca ateia que chegou à Suécia com seis anos e que argumenta que as apresentadoras muçulmanas vestindo trajes tradicionais transmitem uma visão unilateral e  ortodoxa do Islão, que mina os homens e mulheres muçulmanos mais liberais e retarda o processo de integração. "A ‘Halal-TV’ exibe um estereótipo das mulheres muçulmanas", segundo ela.
Ela acredita que, por ser uma emissora pública, a SVT tem a responsabilidade de exibir uma imagem do Islão que seja tão diversa quanto a própria religião. "Porque todas elas são mulheres? Porque todas vestem véu? Porque não um homem e duas mulheres? Porque não mulheres que não usam véu ao lado de mulheres que usam?" pergunta ela.




Muito interessante tudo isto...

No meu país, qualquer homem em situação informal (e muitas vezes formal) deve cumprimentar uma mulher com dois beijinhos, um aperto de mão pode ser incómodo...

Aqui, os polacos, os húngaros, os japoneses, os eslovenos, cumprimentam-se com um aperto de mão...

Nalguns países islâmicos uma mulher que cumprimente um homem que não seja da família com um aperto de mão, pode estar sujeita a apedrejamento...

Acima de tudo, desde que a integridade física e psíquica das pessoas não esteja em causa (o que não é o caso muitas vezes), temos de respeitar a forma de pensar de cada um e a sua cultura, mesmo que nos seja difícil entender... Ganhamos mais com a diversidade quando a respeitamos....

 Beijinhos....

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