"à procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr atrás desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de vencê-lo mais uma vez e sempre.

Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer.
Porque a minha força é imortal."

terça-feira, 8 de junho de 2010

O cheiro da casa da avó...

Num dia próximo, a TeresaM, ao deixar um comentário tão querido no meu blogue, como sempre, falou no cheiro da casa da avó...
Ficou-me a apetecer imenso falar sobre isso...

O cheiro da casa da avó é um cheiro verdadeiro de ternura e de segurança... Nele incluem-se as tardes bem passadas entre comidas e bebidas, chás de hortelã e panquecas, feitas pela tia para todos, que as primas pedem, histórias (de trabalho) contadas pela outra tia, brincadeiras das primas e do primo mais novo da família. Nele incluem-se as filhoses de abóbora feitas e amassadas pela mãe, no Natal, fritas pela avó e salteadas com açúcar e canela por mim...
O cheiro da casa da avó inclui o bolo de nozes que a avó antes fazia, o frango assado na brasa que a avó faz, os piqueniques na mata de São Pedro, o olhar aguado azul, de amor, que o avô tem quando se emociona, a compreensão inigualável da avó, os sermões aliados ao "querer que tudo vos corra bem na vida" do avô, o amor inquestionável que ambos têm pelas filhas e pelos netos.
O cheiro da casa da avó estará para sempre ligado aos anos de trabalho árduo que os dois tiveram, a avó era a cozinheira do seu próprio restaurante na aldeia (aos Domingos era sempre dia de cozido à Portuguesa), a avó era a talhante do seu próprio talho, ajudante da sua própria mercearia e empregada do seu próprio café. O avô ficava-se pelo café e pelo talho - quantas manhãs não acordava com o som do podão a cortar a carne, a desmanchar a carne, como tão bem ele sabia fazer - e pelas idas à Quinta.
O cheiro da casa da avó é também o cheiro das três filhas (por ordem de aparecimento): Janine, Edite, Cidália; das suas alegrias e das suas tristezas, mas de muitos momentos Felizes.
O cheiro da casa da avó é também o cheiro "de protecção e mimo" dos netos: Marlise, a mais velha; Beatriz,  nascida no último Agosto (1997) de funcionamento do café e restaurante; Carolina, 8 anos, que foi cuidada pela avó durante alguns meses do primeiro ano de vida; e Francisco, 2 anos, o mais novo, e único menino entre mulheres.
O cheiro da casa da avó é um cheiro doce de união, apesar das diferenças, e dos laços que se criam sempre que nos juntamos todos, com bastante frequência.

O cheiro da casa da avó é o cheiro da luta pela dignidade na velhice, pela autonomia e  pela luta contra a doença. A avó vive autónoma, dia após dia, com Parkinson, o avô superou um cancro do cólon e um enfarte agudo do miocárdio, nos últimos 10 anos.

O cheiro da casa da avó é um cheiro especial, cheio de recordações, mas a olhar para o futuro.
Na esperança de que fiquem connosco muito mais tempo, para nos verem crescer e superar os obstáculos da vida, com os valores que nos ensinaram, todos os dias...

É deles de quem sinto muita falta neste ano em que estou mais distante: da avó Amélia e do avô Miguel.
Obrigada por serem quem são.
Desta neta que vos ama muito,

Marlise


 A lareira da casa da avó - Natal 2009


Os nossos doces de Natal 2009


16 comentários:

  1. Querida Janine, só podias ser assim tão doce. Depois de ler esta linda, linda página da tua História, eu percebo quem tu és. Bem hajas, querida Janine! Muitos beijinhos doces.

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  2. Marlise
    Amei a tua mensagem.Como é emocionante! Transmites também os sentimentos que vivemos naquela casa, naquele doce e quente lar, que nos conforta a todos. Obrigada por nos recordares o quanto são importantes e especiais, a Amélia e o Miguel, para as filhas e para os netos. Adoro-vos a todos.
    E a Ti amo-te muito!
    Da tua mãe

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  3. Querida Madalena, muito obrigada. Muitos beijinhos doces.

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  4. Mãe...também te amo muito! Está dito! ;) Um dia espero ser tão boa avó para os meus netos como eles foram e são para mim. Beijinhos doces.

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  5. que lindo recordar esses tempos, este post está maravilhoso, concordo com o que escreveu a Madalena, só podias ser assim tão doce!!!
    beijinhos doces
    ..

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  6. Obrigada, querida Maguie. Beijinhos doces.

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  7. Belo post! Consegues deixar no ar o cheirinho a amor e carinho! Como lhes agradecer tudo o que fazem por nós? É dificil faze-lo em palavras mas tu conseguiste-o bem aqui...

    Fica um beijinhos de uma antiga colega de Biologia! Estou a ver que estás a aproveitar a experiência ao máximo... Aproveita tu mereces :)

    Beijinhos Sílvia*

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  8. Muito obrigada, querida Sílvia. ;)
    Fico muito Feliz por alguém tão especial que não vejo há tanto tempo escrever aqui no meu blogue...
    Sinal que a nossa ligação não se perdeu... Saudades tuas, da Leninha, da Rosete, do tempo em que andávamos todas na FCTUC.
    Mas o importante é o que ficou, o carinho que sentimos umas pelas outras. Um beijo enorme, querida amiga.

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  9. Tão longe e tão perto... Beijos da tia ...

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  10. Tão longe, mas sempre tão perto... ;) Beijos da sobrinha... Adoro-vos.

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  11. Que lindo Janine
    Que saudades que eu tenho da casa da avó,fui criada por ela até aos 10 anos,não numa chaminé como essa,mas daquelas antigas em que nos sentava-mos todos á lareira em bancos debaixo da chaminé,com os enchidos pendurados por cima de nós a apanhar o fumo e o calor da fogueira.
    Belas recordações e tantas saudades,o que estou a sentir aqui já hoje senti no blog da TeresaP.
    Tanta saudades.
    Estou emocionada.
    De certeza que a tua avó deve ser como era a minha.
    Querida e doce .
    Beijinhos querida Janine e um bom fim de semana.

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  12. Beijinhos Natália e obrigada! ;)
    As avós são muito especiais, acho que o Rafael pensa o mesmo, de certeza! ;)

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  13. Querida Marlise
    Que belo post! também eu me emocionei ao lê-lo.Eu que vos conheço a todos, sei como são importantes todos esse valores.
    E sobre ti nunca tive dúvidas...és um ser maravilhoso, muito bem formado.Parabéns.Temos muitas saudades!!

    "Comadre"

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  14. E eu lembro-me (e acrescento)....o cheiro do doce da casa...o cheiro da Tica "bébé"....o cheiro da máquina do café....e acrescento o som da campaínha da loja....do "oh senhora..um café!"...e dos matraquilhos escondidos no sótão de tijolo...também fui feliz aí, sabias??!!...Beijos grandes e cheios de saudades tuas!!!!!*

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  15. Querida "Comadre",
    Que gosto ter um comentário seu aqui! ;)
    Muito obrigada pelo carinho de sempre e pelas palavras tão bonitas! ;)
    Um beijinho para todos, saudades.

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  16. Querida manita,
    Ainda me fizeste recordar mais coisas... Bem verdade, o cheiro da Tica bebé que nós tratávamos como se fosse um filho e que era um fascínio, tão pequenina que ela era. O cheiro da máquina de café onde aprendemos a tirar boas bicas, pena ainda não podermos beber nessa altura, agora vingamo-nos, como boas portuguesas que somos... Dos matrecos, confesso que só sou uma jogadora média (e sempre à defesa) devido a ti, mas isso reportar-nos-ia para outro sítio especial...a Azenha, onde aprendi a jogar matrecos minimamente...hehehe Tu é que és a perita!
    E ainda bem que também tens boas recordações da Memória...
    Eu também tenho muitas da Azenha e das tuas avós e avô. Beijo enorme, obrigada pelas palavras, saudades.

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